sábado, 10 de outubro de 2009

A Fotografia nos Museus da Fotografia

Estamos numa época de quase “vale tudo” e como tal, nada melhor do que ir tentando saber como estamos e como poderemos estar possivelmente, amanhã. Falo de fotografia, claro. E a questão é pertinente. O que nos reservará a fotografia no sec.XXI? Foi este o tema da 2ª Semana da Fotografia da Golegã da responsabilidade do CEFGA – Centro de Estudos em Fotografia da Golegã, nada mais do que uma organização que resulta das parcerias do Departamento de Fotografia do Instituto Politécnico de Tomar, do Município da Golegã e da Casa-Estúdio Carlos Relvas. Só pude assistir aos trabalhos de um dia. E apesar da ampla divulgação desta iniciativa estava à espera de ver muito mais gente. Mas, infelizmente e pelas comunidades de fotografia on-line por onde ando, os interesses dos nossos “fotógrafos”(?) vão mais para os últimos gadgets de 21 mpx com sensor pequenino, com foco apoiado em 450 pontos luminosos que se deslocam consoante o horizonte… etc, etc, etc. Muitas vezes esquecem-se que o equipamento é um meio e não um fim, que aquilo apenas serve para fazer… fotografia. E que mais de metade daquelas coisas não serve nunca para nada. Aliás, serve. Para vender. Voltando á Golegã e apesar de não haver tradutor (a maioria da malta hoje em dia já não precisa…) eu lá ia tentando perceber o sentido das palavras dos oradores estrangeiros. Matty Boom, conservadora do Rijksmuseum, de Amsterdão, apresentou de uma forma geral “a sua casa”. Albuminas, colódios, cianotipias a par da digitalização de inúmeros livros para estarem rapidamente on-line. Deu-nos assim um retrato do seu trabalho.
Matty Boom, conservadora do Rijksmuseum, de Amsterdão
Por cá, Cármen de Almeida, do Arquivo Fotográfico da Câmara Municipal de Évora deu-nos umas pinceladas dos novos paradigmas da identidade fotográfica e criticou levemente as autarquias pelo trabalho incompleto que ainda vão fazendo nesta área.
Fazem-se levantamentos, digitalizam-se as provas ou negativos, publicam-se livros e postais e o processo pára sempre aí. Não há continuidade. Referia ela que os originais passam sempre para segundo plano e alertou de que há por aí autênticas preciosidades a serem destruídas diariamente. Interessante a pequena viagem que assistimos pela história da fotografia, com linguagem muito clara e acessível. Uma das frases que registei foi a de que os negativos depois de terem o valor de uso, passam a ter o valor museológico.
Cármen de Almeida, do Arquivo Fotográfico da Câmara Municipal de Évora
Helena Araújo, responsável pelo Museu Vicentes, no Funchal, com o seu ar divertido, cativou inteligentemente a plateia com a história dos estúdios fotográficos do Funchal e com as peripécias que lhe permitiram ir, pouco a pouco, “açambarcando”todo o espólio com que conseguia ir engordando o seu propósito. Retive a afirmação feita com sabedoria de que “os fotógrafos amadores têm uma visão apurada e poética que os profissionais não têm”.
Helena Araújo, responsável pelo Museu Vicentes, do Funchal
Por fim, Grant B. Romer do Museu Internacional da Fotografia – CASA GEORGE EASTMAN, deliciou-me com o seu pensamento e a sua questão principal do que pode ser um museu da fotografia. Fotografia é sobre as pessoas. Mistura ciência/tecnologia, história, arte, cultura popular e pode ser local, nacional e internacional. Está tudo interligado. Como a bala está para a pistola, a fotografia está para a pessoa (fotógrafo/fotografado). Mas como a tecnologia também está cá metida, o museu da fotografia tem de pensar também no cinema ou no vídeo que também são… imagem. Então e a televisão? Onde se põe?
Grant B. Romer do Museu Internacional da Fotografia – CASA GEORGE EASTMAN
Tudo isto levou a que em Inglaterra, por exemplo um museu tivesse actualmente como designação “National Media Museum Bradford”. Interessante também a exploração do tema que o levou a pegar na natureza (que nos dá belas fotografias, ela própria), no tempo, na permanência, na ilusão e na matéria-prima para qualquer imagem, a luz. Sugeriu que uma casa deste tipo (museu) pudesse ser denominada de “Museum of the light”, A CASA DA LUZ. É a luz que liga isto tudo. E deixou um recado. Tudo está a mudar permanentemente. A forma como fazemos as coisas, as designações que lhe damos e até o próprio nome e o valor que lhe vamos atribuindo. É que a fotografia também é formação. Estamos sempre a aprender.
Luís Pavão e Grant B. Romer
Uma palavra final de apreço pela organização disto tudo para a Comissão Cientifica que é composta por António Ventura, José Soudo e Luís Pavão. Para terminar deixo a excelente noticia dos esforços que estão a ser desenvolvidos (e morosos) para elaborar a candidatura para que Casa Carlos Relvas possa ser reconhecida como Património Mundial.
Para visitas ver em http://www.casarelvas.com/
Ver noticia em http://www.omirante.pt/noticia.asp?idEdicao=54&id=34139&idSeccao=479&Action=noticia ou ler edição impressa do passado dia 8 de Outubro.
Caso ainda pretenda ter conhecimento do programa completo desta iniciativa dê um salto a http://portal.estt.ipt.pt/default.asp?script=evento&eventoID=104

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