quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Deolinda... de intervenção!

Fim de semana passado. Cascais, Sintra e Lisboa.
A noite de sábado estava reservada para o Coliseu dos Recreios.
Aguardava há várias semanas Deolinda ao vivo, para a consagração.

Quando entrei no coliseu fiquei de pé atrás. Muitas câmaras de vídeo, luzes acesas da plateia... o espectáculo ia ser gravado.
Não gostei disso.
Não tinha sido informado. As luzes acesas da plateia incomodam e dão um ar artificial á coisa.
Não há magia. Não há "privacidade".
Não gosto disso.
Um espectáculo ao vivo não é a mesma coisa que um espectáculo de televisão com gente a assistir. Eu não ia ver Deolinda ao vivo. Ia ver uma encenação para televisão.

Entendo que um espectáculo, ao ser registado em vídeo, deverá sê-lo como registo natural de um concerto e não como um espectáculo "feito" para tal.
A menos que pague um bilhete e seja informado disso na altura.
E tinha razão. Deolinda fez um espectáculo fora do seu registo normal, mais rápido, com Ana Bacalhau a "debitar" as letras sem grande sentido.
"Um contra o outro" foi sintomático.
Mal se percebiam as palavras tal o ritmo imposto.
Esta música merece ser desfrutada com a calma do disco.

Mas nem tudo foi mau.
A escolha dos convidados foi genial e conseguiu arrepiar-me e afastar-me por momentos, da encenação.
Pena também que muitos pseudo-fãs interrompessem sistematicamente o espectáculo com palmas e assobios. Sim que Deolinda também é para saborear, ouvindo apenas.

Mas o melhor veio no fim, no último encore.
QUE PARVA QUE EU SOU.
Uma canção de intervenção. Como tinha saudades...
Deixo aqui a letra, um vídeo amador e um link para o jornal Expresso que sintetiza isto muito melhor do que eu faria.
Só por isso valeu a pena. Parabéns Deolinda.



Sou da geração sem remuneração
e não me incomoda esta condição

Que parva que eu sou!
Porque isto está mal e vai continuar,

já é uma sorte eu poder estagiar.
Que parva que eu sou!


E fico a pensar,
que mundo tão parvo
onde para ser escravo é preciso estudar.
Sou da geração ‘casinha dos pais’,
se já tenho tudo, pra quê querer mais?
Que parva que eu sou

Filhos, maridos, estou sempre a adiar
e ainda me falta o carro pagar
Que parva que eu sou!
E fico a pensar,
que mundo tão parvo
onde para ser escravo é preciso estudar.

Sou da geração ‘vou queixar-me pra quê?’
Há alguém bem pior do que eu na TV.
Que parva que eu sou!
Sou da geração ‘eu já não posso mais!’
que esta situação dura há tempo demais
E parva não sou!
E fico a pensar,

que mundo tão parvo
onde para ser escravo é preciso estudar.

http://aeiou.expresso.pt/parvo-e-quem-nao-ve=f629335

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