Já era noite quando aquele homem, em passo apressado, entrou
na estação.
Estava frio apesar do casaco lhe fazer crer que não haveria
motivo para se sentir assim.
Meteu a mão no bolso e tirou uma nota de 10 euros.
Um homem de cara cheia, rosto gelado e de aspeto simples olhava-o
fixamente talvez por se sentir sozinho naquela estação ou apenas porque o frio o
impedia de pensar em qualquer outra coisa.
Meio confuso, dirigiu-se à bilheteira e pediu um bilhete
para até onde aquele dinheiro desse desde que fosse no próximo comboio que passasse
por aquela estação.
O homem da bilheteira olhou-o fixamente por uns segundos.
Sem dizer uma palavra viu qual o próximo comboio e até onde daria a nota de 10
euros e deu-lhe o bilhete rodando aquela coisa do tipo “toma lá dá cá”, sempre
atento se a nota estava na parte certa e oposta da roda.
O homem recebeu o bilhete e sem sequer olhar qual o seu
destino, sentou-se ao fundo da estação. Os seus olhos, meio inchados, manifestavam
alguma tristeza e transpareciam água e sal.
Passou pouco mais de um minuto quando o silêncio foi
interrompido. O homem levantou-se apressadamente, tirou o bilhete do bolso, amachucou-o
como um vulgar papel de pastilha elástica, atirou-o para o canto da sala e
saiu.

Agora não, ainda não
Eu não quero ir já por aí
Mais tarde vou-te encontrar
Tenho assuntos por resolver
Agora não, ainda não
Já conheço o inferno e o céu
E ando a rondar o jardim
Das delícias
Tanto avião a chegar
Tanto avião a partir
E eu recuso-me a viajar agora
Se a lua me inquietar
Se a aurora me proteger
Não estou disposto a ir já embora
Agora não, ainda não
Tenho um grande fascínio por ti
Havemos de discutir
Há mistérios por desvendar
Agora não, ainda não
Há enigmas que só nós dois
Teremos de decifrar
Um dia
Tanto avião a chegar
Tanto avião a partir
E eu recuso-me a viajar agora
Se a lua me inquietar
Se a aurora me proteger
Não estou disposto a ir já embora
Agora não, ainda não
Eu não quero ir já por aí
Mais tarde vou-te encontrar
Tenho coisas por resolver
Agora não, ainda não
Guarda-me esse barco tardio
Dá espaço ao meu coração
Vadio
Tanto avião a chegar
Tanto avião a partir
E eu recuso-me a viajar agora
Se a lua me inquietar
Se a aurora me proteger
Não estou disposto a ir já embora