domingo, 1 de abril de 2012

Cristo...

Inquieta-me estes novos tempos em que a fotografia está tão banalizada e que toda a gente decide (e pode, claro) adquirir a mais recente inovação tecnológica dos equipamentos de fotografia digital.
Não que isso tenha algum mal, pelo contrário. Quanto mais gente puder experimentar a fotografia, melhores fotógrafos poderemos ter com tudo o que isso possa trazer de bom para a nossa cultura.
Mas "a fotografia" não é só o equipamento de topo, as objetivas luminosas, os tripés, os flashes, os amigos para colocarem um "like" nos postais que vamos fazendo.
Em contexto de reportagem, por exemplo, pede-se sempre uma boa dose de discrição, pede-se que se conheça minimamente o equipamento, pede-se o respeito pelo que estamos a fotografar e sobretudo o respeito pelo trabalho de quem concebe e organiza bem como de quem quer apreciar .
O fotografo nunca pode fazer parte da ação. Não deve entrar em palco. Não deve ser notado. Não deve interferir.
Fotografar é portanto, um ato cultural. O saber estar, o saber fazer (bem), o respeitar os outros, o saber utilizar o equipamento certo e saber tirar proveito das suas capacidades técnicas, também é uma questão cultural.
E isso não se ensina nas escolas oficiais. Depende de cada um.

No passado sábado, 31 de março, á noite, realizou-se na Chamusca o teatro de rua "A paixão de Cristo"  pela Companhia de Teatro do Ribatejo. Começou na praça da biblioteca e percorrendo algumas ruas finalizou no alto da vila com a subida ao calvário através da escadaria de 200 degraus que acedem á Senhora do Pranto.
Em termos de iluminação, a encenação recorreu a muitas velas, muitos pontos a simular pequenas fogueiras e bastantes archotes. A iluminação pública manteve-se sempre ligada.
Claro que um acontecimento destes atrai muitos fotógrafos amadores e profissionais por várias motivações.
E claro, havia fotógrafos para todos os gostos: com mochilas enormes, com duas máquinas (uma de cada lado com objetivas diferentes), com teleobjetivas, fotógrafos de pé, sentados, deitados, de joelhos, em cima dos atores,  à frente do público,  à frente uns dos outros.
Aliás, a iluminação de um espetáculo é sempre pensada para proporcionar um efeito visual  que pode ser determinante na leitura da cena. E é assim que deve ser registado. Como foi concebido. Como foi idealizado.

E fiquei um bocado triste porque eu era talvez o único (entre mais de uma dúzia) que não tinha um flash na máquina fotográfica.
Claro. Eu ia fotografar um espetáculo com luz própria. E seria assim que eu teria de trabalhar, explorando ainda mais o lado criativo para usar essa luz em proveito próprio de forma a que o resultado final das fotografias fosse também ele interessante.
Não precisava nem era de todo aconselhável usar luz artificial para fazer o meu trabalho.
A determinada altura eram tantas as "flashadas" que até coloquei a possibilidade do encenador ter contratado muitos deles para simularem os relâmpagos e acrescentar mais algum dramatismo à cena.
Fotografar é como andar na estrada. Há muitos condutores mas são poucos os que sabem realmente conduzir.
E não sou eu que o digo.
São as estatísticas.

Equipamento utilizado para esta reportagem
Corpo Nikon D700 em modo manual, objetivas 28mm f:2.8 e 35/70mm f:2.8

(Clique para ver maior)











































































4 comentários:

  1. Felizmente qualquer pode comprar não é bem assim...
    Os preços estragam essa afirmação!
    Tenho uma Nikon D3000, além de uma pequena compacta, no entanto não sou nem aspiro ser fotógrafo, apenas gosto de registar pra mim com qualidade, sim é verdade que por vezes assim meio por engano sai uma foto "boa"...
    No entanto sou curioso, busco sempre saber algo mais acerca da fotografia, mas não quero curso nem formação, tanto é que desconheço ainda metade das "funções" da máquina que tenho, mas a uma das melhores funções é poder seleccionar a velocidade de disparo, pra quem tira fotos em movimento é realmente bom, e quando digo em movimento sou eu que estou em movimento...
    A liberdade de quem fotografa pode ser exagerada e tenho reparado no que penso ser um hábito da "profissão", esse atropelo para conseguir a melhor foto...
    Por isso, nestas reportagens , e em outras, as pessoas deveriam ter a capacidade de respeitar o espaço dos outros, essa incapacidade é apenas um reflexo do ser/estar das pessoas!

    Bom dia, boas fotos!

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  2. Há poucos como tu, meu amigo :-)
    É sempre um prazer rever os teus trabalhos e aprender com as tuas opiniões!
    Aquele abraço. Bem hajas.

    Rogério Pires

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  3. Excelente foto-reportagem....
    A fotografia, antes de tudo é um testemunho. Quando se aponta a câmara para algum objeto ou sujeito, constrói-se um significado, faz-se uma escolha, seleciona-se um tema e conta-se uma história, cabe a nós, espectadores, o imenso desafio de lê-las.
    (Ivan Lima)

    Cumprimentos

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