quarta-feira, 1 de abril de 2009

Arquivo universal – visita obrigatória

Sem entrar em considerações teóricas e filosóficas sobre os termos “arquivo” ou “documento”, objecto principal desta exposição, o que encontrei hoje no Museu Colecção Berardo (ou CCB como ainda gosto de lhe chamar…) constituiu uma autêntica surpresa. E das boas. Organizada pelo Museu d’Art Contemporani de Barcelona e co-produzida com o Museu Colecção Berardo, esta mostra faculta-nos o acesso a verdadeiros documentos fotográficos (e não só) desde o nascimento da fotografia até á actualidade na perspectiva de “documento”. Quer desde 1907, através do trabalho do fotógrafo-activista Lewis Hine sobre o trabalho infantil, ou passando pelo grande projecto da década de 1930 da Farm Security Administration (FSA) sobre os efeitos da grande depressão dos EUA, ou ainda do que nos deixou a Photo League, passando pela importância da revista LIFE, está lá tudo. Inclusivé a “visão” do lado soviético, através de Rodchenko e Kushner por exemplo.. A exposição está constituída num “avança e volta atrás no tempo”. Mostras de como eram feitas as “grandes exposições fotográficas” e em que moldes ou com que objectivos (divulgação, denúncia, manipulação, etc) como o caso da “Mostra Della Rivoluzione Fascista” em Roma, no ano de 1932 ou como talvez a mais célebre e importante exposição de sempre apresentada no MoMA, em 1955, The Family of Man, estão lá documentadas de forma magistral. Mas encontramos muito mais. Trabalhos de Robert Frank, Margaret Mead, August Sander, Matthew Brady, O’Sullivan, Atget, Walker Evans, Lange, Abbott, Eugéne Smith entre tantos outros. E claro que encontramos os trabalhos de Bernd e Hilda Becher, percussores da “escola alemã” e que influenciou (e ainda hoje influencia) o trabalho de muitos autores como Candida Hofer, Thomas Struth ou Andreas Gursky (este talvez até o que mais se distanciou). Temos também uma pequena panorâmica de Portugal e Espanha no meio disto tudo. Claro que “Lisboa, cidade triste, cidade alegre” de Vitor Palla e Costa Martins marca uma presença indiscutível. E para terminar, é uma sensação única levantar as cortinas pretas que protegem da luz ambiente para ver as primeiras fotos de uma guerra, a Guerra da Crimeia. São de 1855 e foram captadas pelo primeiro fotógrafo que “registou” uma guerra, Roger Fenton. Todos os documentos são originais e genuínos. Exposição indispensável para quem gosta de fotografia. Até 3 de Maio. Vá com tempo, pode demorar! Ah, e muito importante: pode fotografar, sem flash, claro.

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